Superpopulação ou superpovoamento nos aquários é sempre um assunto polêmico, um tanto complexo e amplo. São sempre muitas variáveis físicas, químicas e biológicas que envolvem a lotação dos peixes, o que faz com que esse assunto vá muito além do que apenas a quantidade de animais do aquário.
Existem 2 tipos de superpopulação que precisam ser considerados: A superpopulação por quantidade de peixes ou a superpopulação por incompatibilidade de espécies.
A superpopulação por quantidade de peixes é a noção mais comum do conceito de superpopulação nos aquários onde há uma grande quantidade de peixes num pequeno volume.
A superpopulação por incompatibilidade já é menos percebida pelos aquaristas e ocorrem até aquários grandes e com poucos peixes. Esse é o tipo de superpopulação causado devido a fatores comportamentais como predação, territorialismo, hábitos de cardume, e alguns outros entre os peixes.
Para ficar mais claro a diferença entre uma superpopulação por quantidade e uma superpopulação por incompatibilidade, vamos dar alguns exemplos de superpopulação por incompatibilidade já que a superpopulação por quantidade é intuitiva.
Um exemplo clássico de superpopulação por incompatibilidade é um aquário com acarás bandeiras junto com kinguios ou com acarás discos. As acarás bandeiras, por serem mais rápidas e vorazes que os discos ou os kinguios, acabam por pegar a ração que os peixes mais lentos iria pegar, o que desencadeia mecanismos de estresse que podem perdurar por muitos dias.
Aquários marinhos com tangs também vivem constantemente, eles são agressivos com peixes da mesma espécie, mas não são agressivos com peixes de outras espécies.
Aquários com peixes predadores estão frequentemente em estados de superpopulação por incompatibilidade. Um aquário de 1000 litros com uma pirarara de 40cm e um óscar de 15cm vai estar superpovoado, porque o óscar pode virar comida da pirarara (e provavelmente vai) em pouco tempo.
O vídeo acima mostra um aquário de carnívoros onde uma aruanã foi comida por um peixe-tigre-golias quase do seu tamanho!
Um aquário com apenas um peixe pode estar superpopuloso também! Basta pensar num oscar, num kinguio, num pangasius, num pintada em um aquário de 30 litros, por exemplo. O aquário mesmo com um único peixe está claramente superpovoado!
Então, o que define se um aquário está superpovoado ou não?
Para nós da Aquários Sobrinho um aquário está superpovoado quando o conjunto envolvendo a parte física do aquário (filtragem, circulação, tamanho, etc.) e o conjunto de peixes e outros animais é prejudicial de alguma forma nociva aos animais do aquário. Se não é prejudicial, está numa lotação aceitável.
É muito difícil definir teoricamente exatamente se um aquário está superpovoado ou não, que isso fique claro. Cada composição de peixes, medidas do aquário (não só o volume, como também as diferenças de altura, largura e profundidade), quantidade e forma de circulação de água, forma de alimentação e até mesmo personalidades diferentes de peixes de uma mesma espécie influenciam nisso.
Muita gente se baseia naquilo que é agradável aos olhos para definir quando um aquário está superpovoado de peixes, mas isso muitas vezes pode enganar e levar a percepções erradas sobre as coisas.
A questão da superpopulação vai muito além da questão estética!
Existem uma série de fatores que vai muito além da questão do aquário estar ou parecer cheio demais.
Problemas da superpopulação nos aquários
A superpopulação dos aquários, tanto por quantidade como por incompatibilidade, causam uma série de respostas fisiológicas que desencadeiam um quadro constante de estresse, o que no longo prazo causa emagrecimento, redução da imunidade fisiológica e até mesmo morte!
O estresse é um dos principais agente debilitadores dos peixes e de todos os seres vivos. Um peixe estressado tem sua imunidade reduzida e fica muito mais susceptível a doenças e problemas de saúde.
O superpovoamento nos aquários, tanto por quantidade quanto por incompatibilidade, tem duas principais implicações que são os principais causadores de estresse: qualidade da água e comportamento dos peixes. Entender esses pontos é muito importante para podermos contornar os efeitos nocivos e poder melhorar o bem estar dos nossos peixes.
Influência da superpopulação na qualidade da água do aquário
Influência direta da população da água no aquário é até bem simples: quanto mais peixes, maior a produção de contaminantes e maior a necessidade de filtragem.
Um aquário de 500 litros com apenas 5 acarás discos adultos não está superpovoado em relação ao tamanho, mas se ele tiver um filtro hang on de 500 litros por hora ele vai estar superpovoado para essa determinada filtragem.
Muito peixe em um volume pequeno exige muito mais filtragem. Não há o que estender nesse assunto aqui.
Faça sempre manutenções regulares e adequadas no seu aquário e sempre capriche na circulação de água!
Influência da superpopulação no comportamento dos peixes
Esse fator é o mais complexo e mais difícil de lidar porque requer atenção constante e uma observação minuciosa de pequenos detalhes no aquário.
Alimentação
O primeiro e mais visível efeito da superpopulação é na hora da alimentação.
Um aquário muito cheio causa uma competição na hora da alimentação que estressa os peixes de modo geral, mas afeta principalmente os peixes mais lentos que não conseguem comer direito.
Mesmo os peixes que são ágeis na hora de comer podem desencadear um leve quadro de estresse temporário devido a agitação num aquário muito cheio, então é preciso diminuir ao máximo a competição na hora da comida.
A principal forma de diminuir a competição na hora da alimentação é diversificar ao máximo o tipo de alimento entre alimentos de superfície, alimentos que afundam devagar e alimentos de fundo.
Quanto mais se espalhar a comida no aquário, menor vai ser a competição por uma comida específica e menor o estresse provocado.
Um dos melhores meios de alimentar e a comida se espalhar por todo o aquário é o uso de alimento vivo como artêmias e dáfnias. Esses animais vão nadando e se espalhando por todo o aquário dando oportunidade para todos os peixes se alimentarem tranquilamente.
Não concentre o local onde você coloca a comida em um único canto do aquário, espalhe o máximo possível para os peixes competirem menos entre si.
Agressividade
Muitos peixes são agressivos por natureza, principalmente ciclídeos de modo geral, e a população ou superpopulação pode influenciar ainda mais nessa agressividade, principalmente em relação a peixes territorialistas ou em época de reprodução.
São comuns os casos de perseguição de alguns peixes por outros peixes, de espécies iguais ou diferentes. Essas perseguições geralmente causam ferimentos, prejudica a alimentação do peixe perseguido e muitas vezes termina em morte de algum peixe.
O fator agressividade depende muito da espécie e ainda entre peixes da mesma espécie há uma grande diferença de personalidade, há peixes que são mais tranquilos e peixes que são mais agressivos.
Existem também alguns casos específicos que o aumento da população reduz a agressividade!
Um exemplo muito comum é em aquários de água doce em que um aumento da população de peixes reduz a agressividade é com os barbo sumatranos. Em cardumes pequenos com, geralmente, menos de 6 barbos sumatranos, eles são muito agressivos com todos os outros peixes do aquário, porém, quando o cardume é grande, geralmente maior que 7 indivíduos, eles tendem a deixar os outros peixes em paz. Esse caso é um caso de que uma maior população reduz o estresse e isso é visível para quase todos os peixes de cardume.
Também desse caso podemos citar os tangs que em grandes cardumes em aquários muito grandes se tornam bem menos agressivo do que em menor quantidade.
Passividade
Um dos piores efeitos envolvendo a população é a passividade de alguns peixes. Muitos peixes se sentem amedrontados, se refugiam nos cantos, se alimentam apenas dos restos de comida.
Essa consequência da superpopulação é mais comum em casos de superpopulação por incompatibilidade do que em casos de superpopulação por quantidade.
Peixes que se encontram nessa condição acabam por ir definhando lentamente, adoecendo e morrendo.
Caso encontre um peixe nessa condição o melhor a fazer é retirá-lo do aquário ou pode-se prestar atenção especial alimentando ele diretamente, alimentando com o auxílio de uma pinça.
Todos os pontos acima mencionados se inter-relacionam de diversas formar. Uma má qualidade da água pode aumentar a agressividade ou a passividade dos peixes, assim como a agressividade ou passividade pode prejudicar a digestão dos alimentos aumentando a quantidade de nutrientes na água.
Lidando com o superpovoamento nos aquários
Já falamos dos principais pontos envolvidos quando o assunto é superpopulação nos aquários, mas e o que podemos fazer em cima disso?
A primeira e principal coisa é fazer o maior aquário possível com a melhor capacidade de filtragem. Quanto maior o aquário, melhor pra estabilidade e para o bem estar dos peixes.
É preciso deixar claro uma coisa: Todos os efeitos citados acima envolvendo qualidade de água e comportamento também acontecem em aquários com poucos peixes, em maior ou menor grau, e que são potencializados em casos de superpopulação. Não é a quantidade ou incompatibilidade de peixes que necessariamente causa os problemas do superpovoamento, são as mesmas relações envolvendo qualquer quantidade de peixe que causam esses problemas.
Os mesmos problemas da superpopulação também acontecem em aquários com filtragem inadequada ou com peixes incompatíveis entre si mesmo tendo poucos peixes!
Voracidade na alimentação, agressividade, passividade, má qualidade de água e outros fatores que podem estar presentes em aquários de todos os tipos e tamanhos e apenas apresentam de forma mais intensa em aquários com muitos peixes.
A principal característica do aquarista que vai ajudar a manter seu aquário sem os efeitos negativos é a experiência. A experiência prática e a busca constante por informações corretas ajuda muito a manter aquários com grande quantidade de peixes em situações similares a um aquário com poucos peixes.
Um aquarista experiente poderia manter acarás discos e bandeiras juntos num grande aquário com tranquilidade desde que esses peixes tenham espaço suficiente para não se incomodarem.
Uma valiosa dica para quem está começando agora é sempre começar sempre com poucos peixes e vá pegando experiência, vá aprendendo a reconhecer os menores sinais de estresse que os peixes apresentam. Com o tempo o aquarista aprende a reconhecer padrões em aquários de outros aquarista e entender melhor os comportamentos das diversas espécies em diversas lotações e combinações para manter os peixes em maior quantidade nas mesmas condições que eles estariam se tivesse em pequena quantidade.
Para terminar, apresentamos como exemplo de um aquário bem povoado sem os prejuízos e sintomas da superpopulação o aquário de acarás discos do Antônio de Recife.
Muitos disseram que o aquário está superpopuloso, mas onde estão os efeitos nocivos? Os peixes não apresentam nenhum sinal de estresse nesses meses que temos contato, não há descoloração (muito pelo contrário, os peixes estão extremamente coloridos), nem barbatanas abaixadas e muito menos respiração ofegante, todos sinais de estresse visíveis nos discos. A qualidade da água está impecável, o pH é digitalmente controlado e regulado de forma automatizada, amônia e nitrito indetectáveis.
Mesmo que o aquário acima possa parecer superpopuloso pra alguns, não está nem superpopuloso pela quantidade e nem superpopuloso por incompatibilidade. Todos os peixes estão com saúde plena, não são agressivos entre si e não apresentam hábitos que prejudiciais aos habitantes do aquário.
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