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Foto do escritorAquários Sobrinho

Lidando com o Risco no Aquarismo

Esse texto não vai falar sobre os riscos no vidro do aquário, mas sim dar uma ideia de como algumas coisas possuem chances, às vezes pequenas e às vezes grandes, de dar errado. Existe o risco dos equipamentos pararem de funcionar, de peixes brigarem, de um peixe comer o outro, risco do peixe adoecer e uma infinidade de outras possibilidades. Muitas vezes por ignorarmos o risco acontecem muitas decepções que chegam até a fazer com que algumas pessoas desistam do hobby e nem o aquarismo está livre da Lei de Murphy.

Como podemos definir o risco?


O risco é a chance ou probabilidade de algo dar errado. Simplesmente isso.


Se você aposta cara ou coroa com seu amigo tem um risco de 50% de você perder. Se aposta que em um baralho de 52 cartas e você tem que tirar uma carta específica apenas, a chance de sucesso é de 1,9% e o risco de dar errado é 98,1%.


É muito fácil calcular o risco de coisas materiais e que dependem apenas da quantidade como o exemplo da moeda e o exemplo do baralho. Para tal existem fórmulas estatísticas que fazem com que seja relativamente fácil calcular o risco. Mas para calcular variáveis não numéricas como agressividade e chance de um equipamento parar de funcionar é praticamente impossível (para não dizer impossível logo de cara).


Na parte do comportamento de peixes em geral é muito difícil ter alguma base científica pois o interesse em pesquisa nessa área é muito recente. Se for comparar com as pesquisas comportamentais sobre os cachorros, é como se fosse uma gota num oceano. Também tem a parte de convivência entre peixes, cachorros e pessoas. Enquanto o aquarismo só tem algumas décadas de sucesso, a domesticação dos cachorros já tem muitos milênios. Toda essa diferença faz com que seja muito mais fácil calcular o risco de um cachorro agressivo do que a de um peixe ser agressivo.


No aquarismo nós da Aquários Sobrinho costumamos trabalhar com níveis de riscos. As coisas possuem risco muito baixo, baixo, moderado, alto.


O nível de risco muito baixo é onde ocorrem aquelas situações rotineiras onde apenas um sinistro faz com que dê errado. O risco de um cardume de tetra mato grosso brigarem entre si é muito pequeno, só vai acontecer em condições de estresse muito elevado como doença ou condições de água muito ruim. Num aquário corretamente montado, esse risco dos tetras mato grosso se agredirem é praticamente inexistente.


O nível de risco baixo é onde acontecem os problemas mais regulares. A queima de uma lâmpada, uma bomba parar de funcionar, um momento de desatenção que você derruba o pote de ração aberto no chão ou no aquário.


O nível de risco moderado já é o que acontece com certa regularidade. Nesse nível de risco podemos colocar as situações como acarás bandeiras num aquário comunitário ficarem agressivas enquanto estiverem com ovos no aquário e poderem machucar algum outro peixe ou o risco de uma peixe pular de um aquário de jumbos.


O nível de risco alto é aquele que tem grandes chances de dar errado, na verdade vai dar errado uma hora, só não se pode definir quando. Colocar um peixe como uma pirarara com um peixe do tamanho da cabeça dela sempre tem um risco alto dela comer esse peixe, mesmo se ela for bem alimentada. Colocar uma tartaruga tigre d’água com peixes sempre tem um risco alto dela morder o peixe, mesmo o peixe sendo maior que ela. Fazer um aquário com filtragem subdimensionada vai ter errado, só não se sabe quando.


Agora que falamos dos riscos, como a gente estipula isso?


Bom, a resposta é pela nossa experiência, pela experiência das outras pessoas, por pesquisas científicas (que infelizmente são poucas) e pelas informações técnicas dos produtos. Isso é uma faca de dois gumes por vários motivos.


As nossas experiências são limitadas a muitos fatores não controlados, então fica difícil acertar o motivo correto de muitas coisas. Só a repetição de um fato é que faz a gente ter convicção de que algo aconteceu por alguma coisa. É esse fato da repetição e do controle dos fatores que valida os trabalhos científicos. Se uma pessoa conseguiu resultados semelhantes ao outro fazendo a mesma coisa, tende que a repetição do experimento é possível.


Com a formação dos grupos da internet o que eu mais vejo são informações contraditórias e/ou mal fundamentadas. Às vezes as pessoas estão até bem-intencionadas, mas acaba por confundir mais a pessoa. É preciso tomar cuidado com esse tipo de informação.


Vamos dar alguns exemplos de riscos para após podermos falar do real intuito desse texto: o controle de riscos.


Muitos dos ciclídeos são peixes territorialistas e agressivos quando chegam na idade adulta. Isso faz com que sempre haja o risco de briga em aquários com esse tipo de peixe. A briga pode não dar em nada, dar em ferimento ou mesmo causar a morte de algum peixe. Nos marinhos um peixe muito agressivo com peixes da mesma espécie são os palhaços. Se houver mais de um casal de palhaço num aquário curto, a chance de brigar é muito alta.

Os equipamentos de pior qualidade possuem maior chance de dar problema do que os equipamentos de melhor qualidade. Um exemplo clássico são os alimentadores automáticos. Já vi muitos problemas com alimentadores jogarem mais comida do que necessário e o pior que esse tipo de equipamento é mais usado quando as pessoas viajam.

Colocar um peixe num aquário com água incompatível tem o risco de causar uma morte “súbita” se o peixe não tiver capacidade de se adaptar à essa água. Dureza e pH incompatível são exemplos de parâmetros que causam morte de peixes. Veja nossos textos sobre Dureza e sobre pH.


Usar ração de baixa qualidade ou de tipo incorreto para o peixe sempre tem o risco de causar uma doença direta ou indiretamente. Peixes carnívoros possuem baixa capacidade de digestão de amido e rações com esse componente não processador corretamente causa sérios problemas ao fígado do animal.


Invertebrados como pepinos do mar, esponjas e outros organismos marinhos podem liberar toxinas em situações específicas ou quando morrem.


Alguns equinodermos como as estrelas do mar, ouriços e pepinos do mar possuem a capacidade de liberar seus líquidos gástricos para fora do seu corpo e isso pode causar problemas.


Os filtros de algas, os famosos ATS, possuem um risco de as algas liberarem fenol e outros compostos na água. Esse assunto já foi abordado no nosso texto sobre os Filtros de Algas.

Todo aquário marinho sem chiller tem o risco de esquentar demais e perder o aquário. Esse risco aumenta consideravelmente no verão e diminui consideravelmente no inverno.


Aquários de kinguios com plantas possuem um risco de não terem mais nenhuma no outro dia.


Peixes de águas diferentes, pH diferentes, sempre estão sob risco de estresse.


Alguns animais possuem comportamento situacional. O centropyge aurantonotus pode comer coral ou não. O paracanthurus hepatus também. O camarão bailarino algumas vezes come coral ou não. Muitos desses fatores ainda estão inexplicados.


Esses foram alguns exemplos e eu poderia descrever mais alguns por páginas e páginas, mas é apenas para o leitor ter uma ideia os riscos que envolvem o seu aquário e controlar da melhor maneira possível.


Controlar os riscos do aquário é fundamental para se ter um aquário bem-sucedido por anos, mas para isso é preciso considerar os fatores que aumentam e reduzem os riscos.

Existem diversas situações que aumentam ou diminuem a chance de algo dar errado, então é preciso sempre tentar diminuir os riscos ao máximo. Algumas situações podem dar tão errado que podem fazer perder o aquário todo. Segue abaixo alguns exemplos de fatores que aumentam ou diminuem certos riscos.


Para reduzir o risco do peixe adoecer é só manter ele na água compatível com seu tipo de peixe e alimentar com ração de alta qualidade. Se temperatura, pH, dureza e contaminantes estiverem nos níveis ideias, muito, mas muito difícil o peixe vai adoecer.


Todo mundo quando está estressado fica irritado, agressivo e susceptível a doenças. A estresse é um fator muito importante a ser controlado para diminuir uma série de riscos. Veja aqui no nosso texto sobre o estresse mais detalhes sobre como identificar e controlar fatores de estresse.


Como dito antes, equipamento de melhor qualidade possuem a chance de dar menos problemas. Alimentadores automáticos, aquecedores, bombas, filtros, sistema de refrigeração de água e todos os outros equipamentos estão susceptíveis a esse risco.

Resfriar um aquário com collers possui um risco muito maior do que resfriar um aquário com chiller. O collers depende de condições do ar para funcionar corretamente, o chiller não. A eficiência dos collers reduz gradativamente de acordo com o aumento da umidade atmosférica. O risco de um aquário dar problema por causa de temperatura depende da região do aquário ( aquários na serra gaúcha possuem risco muito baixo de dar problema devido ao aquecimento e no Nordeste o risco é muito alto, por exemplo). 


No caso dos aquários plantados com kinguios, se a alimentação for equilibrada e rica com fontes vegetais, o risco deles comerem as plantas do aquário é baixa.

O aquário de kinguios da Solange Nalenvajko é um caso que deu certo.

Algumas situações inevitavelmente vão dar errado. Segue alguns exemplos:


Colocar striatus (chaetodon striatus), centropyge bicolor, pomacanthus paru no aquário marinho é certeza que eles vão morrer em algum momento. São peixes que dependem de uma dieta tão específica que nenhuma ração consegue suprir, igual acontece com os cavalos marinhos. O problema maior é quando esses peixes adoecem e contaminam os outros peixes.


Fazer chiller com tubulação de inox em aquários marinhos também vai dar muito errado uma hora.


Para finalizar, é preciso deixar claro mais uma vez que o risco é apenas uma chance de algo dar errado. Existem casos que o risco é alto e mesmo assim não acontece nada por um longo tempo (o que não quer dizer que não possa acontecer algum momento).


Assim sendo, a ideia desse texto foi mostrar que existem problemas que podem ter sua ocorrência reduzida ou mesmo evitada controlando alguns fatores. Calcular o risco de colocar algo que pode dar errado é complicado até mesmo para os aquaristas mais experientes e deve ser muito bem pensado previamente. A melhor maneira de calcular o risco é ver quais seriam os efeitos negativos de dar errado e se não há outra situação cabível. Se os resultados ao dar errado forem aceitáveis pode ser uma boa opção, se não for aceitável melhor não correr o risco. Se há outra situação com risco menor, é sempre mais indicada.


Foi citado no começo do texto a Lei de Murphy e ela é completamente aplicável ao aquarismo. A Lei de Murphy diz que se algo pode dar errado, vai dar errado. Quantas pessoas que você conhece que tiveram problemas no aquário e estavam viajando ou não estavam em casa? Quantas pessoas que achavam que chiller não era necessário e perderam o aquário quando ele estava bonito? Quantas vezes você já viu casos de peixes que se davam bem até um matar o outro? Pois é, o risco é sempre real.

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