Seja aquário marinho ou de água doce, as cianobactérias incomodam todos os aquaristas, dos mais avançados até o mais novo iniciante, e chegam a causar perda de plantas, corais e até mesmo fazendo com que o aquarista desmanche todo o aquário. Prevenir esse tipo de alga é muito mais fácil que combater, então vamos entender um pouco mais sobre elas para podermos reduzir a incidência delas nos nossos aquários.
As cianobactérias são micro-organismos fotossintetizantes muito antigos que habitam a terra há pelo menos 2,5 bilhões de anos. Algumas das cianobactérias possuem a capacidade de fixar o nitrogênio atmosférico, eliminando a necessidade de amônia ou nitrato no meio. Podem aparecer nas cores verdes, azuis e avermelhadas, tudo dependendo dos pigmentos contidos em suas células. Possuem uma ampla capacidade de reprodução e também podem produzir toxinas.
Uma das principais características das cianobactérias é de se associarem em colônias ou filamentos através de uma camada de “gelatina” que mantém as cianobactérias unidas. Essas associações permitem com que as bactérias dividam as tarefas de fixação de nitrogênio, fotossíntese e reprodução. Possuem a capacidade de estocar uma grande quantidade de nutrientes em suas células, então elas vão ficar por muito tempo depois dos nutrientes terem se esgotados.
Os principais fatores que influenciam o crescimento das cianobactérias são: Luz, temperatura, composição química do meio e oxigênio dissolvido.
Sem luz, não há fotossíntese; sem fotossíntese não há cianobactérias. Em aquários apenas com peixes, é possível apagar as luzes por alguns dias e ir combatendo as cianobactérias, mas isso não é possível em aquários com plantas ou corais. Diminuir a iluminação não surte nenhum efeito, pois as cianobactérias são adaptadas para aproveitar o mínimo possível de luz disponível.
A temperatura média de melhor crescimento das cianobactérias fica entre 20°C e 30°C, a temperatura média da maioria dos aquários. Alguns estudos apontam que flutuações de temperatura, por algum motivo desconhecido, induzem o crescimento das cianobactérias. Escuto muitos relatos de surgimento de foco de cianobactérias em picos de temperatura nos aquários.
O segundo fator que mais interessa aos aquaristas é a composição química do meio e como isso influencia o crescimento das cianobactérias. Elas precisam basicamente de um pouco de luz, CO2, N2, água e minerais. Para complicar a situação, as cianobactérias precisam de pouca concentração de nitrogênio e fósforo na água, ou seja, basta um mínimo de fosfato e nitrato (ou amônia) para que as cianobactérias tenham os nutrientes que precisam para crescer. Desses fatores, o único controlável pelo aquarista é o fosfato, nitrato e amônia e mesmo assim as cianobactérias podem guardar uma enorme quantidade deles em suas células. Devido a um pico rápido de fosfato, nitrato ou amônia, as cianobactérias podem estar abastecidas desses nutrientes por semanas.
O oxigênio dissolvido é o fator mais importante para o surgimento das cianobactérias em aquários já que a iluminação e temperatura são constantes e há baixa concentração de compostos orgânicos na água. As cianobactérias surgiram na terra quando o oxigênio era um elemento traço, quantidade ínfima, na atmosfera e os cientistas acreditam que foram as cianobactérias as responsáveis pelo aumento da concentração de oxigênio. O oxigênio dissolvido em quantidades pequenas é capaz de inibir a fixação de nitrogênio gasosa, ou seja, obriga a cianobactéria a precisar de compostos nitrogenados do meio.
Agora que sabemos um pouco sobre as cianobactérias, vamos entender como evitar que elas surjam em grandes quantidades e a tratar os focos.
Em aquários devidamente equipados com níveis baixíssimos de amônia, nitrato e fosfato, uma água com boa concentração de oxigênio dissolvido é suficiente para evitar os surtos de cianobactérias. Os focos logo surgem e somem sem afetar em nada no aquário.
É comum o surgimento de cianobactérias em aquários com má circulação de água. O acúmulo de excesso de ração ou fezes faz com que apareçam as bactérias decompositoras no local que consumirão o oxigênio, criando um ambiente propício para o surgimento das bactérias. Com uma boa circulação, não há acúmulo de fezes ou ração já que o excesso será levado pela correnteza para o sistema de filtragem.
A boa circulação de água é uma das melhores maneiras de prevenir e controlar o surgimento de cianobactérias. A correta circulação ajuda na oxigenação da água e contribui para o não acúmulo de restos orgânicos. As colônias de cianobactérias são muito moles, logo não conseguem se fixar onde há correnteza moderada.
Remediar um surto de cianobactérias é muito mais complexo que prevenir devido à grande capacidade de adaptação desses organismos.
Quando as colônias estão formadas, algumas das cianobactérias são responsáveis por proteger as cianobactérias do oxigênio, ou seja, mesmo que haja grande quantidade de oxigênio dissolvido na água, nem todas as bactérias terão a fixação de nitrogênio prejudicada e poderão continuar fixando o nitrogênio gasoso. Então, aumentar a quantidade de oxigênio dissolvido por si só não é suficiente.
Se você aumentar a circulação de água nas cianobactérias a colônia irá se fragmentar em várias partes e se espalhar por todo o aquário podendo causar um problema ainda maior se houver luz e nutrientes onde elas caírem.
Os passos que recomendamos para tratar um surto de cianobactérias são:
1) Reduzir ou suspender a alimentação
Esse passo é importante para cortar ou reduzir a entrada de nitrogênio e fósforo no aquário com a finalidade de reduzir a oferta de nutrientes do aquário.
2) Sifonar as colônias de cianobactérias constantemente.
Esse passo é importante para remover o excesso de bactérias e retirar os nutrientes que estão imobilizados nelas.
3) Melhorar a oxigenação do sistema
Ajuda na prevenção do surgimento de novas colônias e na redução da fixação de nitrogênio das colônias existentes.
4)Melhorar a circulação do sistema
Ajuda a levar o oxigênio dissolvido para vários lugares do aquário, além de remover o excesso de cianobactérias do aquário. O skimmer é capaz de remover as cianobactérias que estão “à deriva” na água, mas para isso é preciso que as cianobactérias cheguem até ele. Caprichar na filtragem física durante a sifonagem também ajuda muito a remover as cianobactérias que se soltam das rochas, substrato e vidro do aquário. Deve-se trocar ou lavar a mídia de filtragem física pelo menos uma vez ao dia.
5) Providenciar equipamentos para manter muito baixos os níveis de nitrato, fosfato e amônia.
Esse passo é fundamental para combater as cianobactérias e prevenir que elas voltem.
Um surto de cianobactérias pode demorar semanas ou meses para serem controlados e eliminados, então é muito melhor prevenir mantendo o aquário com ótima circulação e oxigenação e com baixo nível de nutrientes orgânicos.
Por último, é preciso lembrar que as cianobactérias podem produzir toxinas diversas que podem ser nocivas aos animais e outros micro-organismos. Quando se usa remédio ou apagões para combater as cianobactérias, elas acabam por liberar ao morrer todas as toxinas que estavam em suas células na água, podendo causa efeitos colaterais desastrosas se a quantidade destas forem grandes. De forma nenhuma recomendamos o uso de antibióticos diretamente nos aquários, sejam eles doces ou marinhos, devido ao seu efeito não seletivo. Existem vários micro-organismos benéficos que serão prejudicados.
Para evitar os surtos de cianobactérias, nós da Aquários Sobrinho fazemos uso de dois equipamentos: O Oximax e o Gerador de Oxigênio.
O Oximax é o nosso filtro eletroquímico que reduz os compostos orgânicos e, por meio do processo da eletrólise, aumenta a quantidade de oxigênio dissolvido na água. Ele só deve ser usado em aquários de água doce.
Nós usamos o nosso Gerador de Oxigênio no nosso aquário marinho, equipamento que praticamente satura a água de oxigênio dissolvido. Desde quando iniciamos o seu uso no meio do ano passado nós não tivemos mais nenhum fico de cianobactérias.
Leia um pouco mais sobre a Amônia nos Aquários Leia um pouco mais sobre o Nitrato nos Aquários
Leia um pouco mais sobre o Fosfato nos Aquários
Referências Bibliográficas:
Toxic Cyanobacteria in Water: A guide to their public health consequences, monitoring and management Edited by Ingrid Chorus and Jamie Bartram.
Cyanobacteria in fish ponds. J. Sevrin-Reyssac and M. Pletikosic
Oxygen Relations of Nitrogen Fixation in Cyanobacteria, Peter fay.